GATOS NA COLEÇÃO DE EDSON NERY DA FONSECA
30-07-1990
Edson Nery da Fonseca Foto: Correio Brasiliense
Alguns de meus amigos são fanáticos criadores de gatos.
Edson Nery da Fonseca, pernambucano dedicado ao estudo da obra de Gilberto Freyre, bibliotecário polêmico, com passagem eficiente pela Biblioteca do Congresso Nacional e longa experiência na vida acadêmica, sempre viveu cercado de livros e de gatos.
Inteligência sofisticada, leitor voraz de textos humanistas, Edson dedica boa parte de sua grande afetividade aos felinos, mesmo aos achados na rua. Gatos sem pedigree,
aos montes.
Quando morava em uma casa na Av. W3, em Brasília, chegou a ter dezenas deles, em convívio quase promíscuo.
Um caseiro dedicado aos animais não era capaz de manter a casa limpa.
Havia livros até no banheiro e debaixo das escadas. Os gatos empestiavam móveis e tapetes.
Uma vez encontrei fezes deles sobre os livros empilhados nos corredores.. O mau cheiro incomodava os vizinhos. Os miados causavam protestos da vizinhança.
Quando foi de volta para o Recife (Pernambuco) levou vários engradados com os gatos, em serviço especial de uma transportadora. Havia comprado uma bela e antiga casa perto do Mosteiro dos beneditinos, amigos dele.
Fez construir, ao fundo, uma área própria para os bichos.
Tinha perto de si um ou outro gato, de “visita”, em um relacionamento mais higiênico e saudável.
Sua (nossa) amiga Míriam Martins de Gusmão, bibliotecária aposentada, também pernambucana, compartilha com ele o amor pelos gatos, criando-os em quantidade em sua casa na “satélite” de Sobradinho, no DF.
Outra que vive com gatos é a Neusa Dourado Freire, minha orientadora do doutorado na Universidade de Brasília. O apartamento dela nos Jardins paulistanos tem sempre um cheiro forte, de urina ou de detergentes.
Primeiro era um enorme gato malhado, preto e branco, que a acompanha há anos. Está meio caduco. Agora ela tem mais um, cinzento, de raça siamesa. Um belo animal. Dois machos. De vez em quando brigam e fazem um escândalo enorme. Da última vez tentou separá-los e ficou toda arranhada, nos braços e nas nádegas. Um estrago!
Mandei para ela, dos EEUU, no ano passado, um sugestivo cartão postal em que aparecia o desenho de um gato à beira de um lago, com um barbante ao pescoço, amarrado a uma pedra,
com a legenda: “How to teach a cat to swim”...
Mas o cúmulo da felinomania é com o Felipe, também bibliotecário como a Neusa. Ele mora no Valparaíso, à saída de Brasília. Da última vez que o visitei, tinha sessenta e seis gatos e cinco cachorros. Gasta boa parte de seu salário com comida e remédios. Ele e o companheiro têm que fazer revezamento no cuidado diuturno do mini-zoo no quintal. Fêmeas separadas dos machos para inibir a reprodução... Conhece-os todos por nomes. Sabe todas as manhas, idiossincrasias, manias e personalidades dos bichanos. E, se não bastasse, meu amigo Milton Nocetti anda sempre com seu gato encoleirado — o Sachá.
Gato esperto, comunicativo, brincalhão. Ao contrário dos outros gatos que são apegados à casa, o Sachá é apegado ao dono. Ora está no apartamento, ora na chácara, e parece bem à vontade em ambos ambientes.
Todos os felinomaníaticos são bibliotecários. Todos solteiros. Não pretenderia, para não cair no ridículo, tentar fazer correlações (pretensamente) significativas entre a profissão e a afeição aos gatos, muito memos com o
celibatarismo ou solteirice.
Também gosto dos gatos, mas não ao ponto de tê-los perto de mim. Também sou bibliotecário e solteiro.
Certamente, Edson, Míriam, Felipe, Neusa e Milton são as exceções...
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